A Mediunidade Curadora e o Magnetismo

O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo. Os médiuns que obtêm as indicações de remédios da parte dos Espíritos não são o que se chama médiuns curadores, porque não curam por si mesmos; são simples médiuns escreventes que têm uma aptidão mais especial do que outros para esse gênero de comunicações, e que, por essa razão, podem se chamar médiuns consultantes (consultores), como outros são médiuns poetas ou desenhistas. A mediunidade curadora se exerce pela ação direta do médium sobre o doente, com a ajuda de uma espécie de magnetização de fato ou de pensamento.

 Quem diz médium diz intermediário. Há esta diferença entre o magnetizador e o médium curador, pois que o primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor.

 O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo se isto se pode, ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o caso da mediunidade curadora.

 

O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador haure tudo em si mesmo. Mas os médiuns curadores, na estrita acepção da palavra, quer dizer, aqueles cuja personalidade se apaga completamente diante da ação espiritual, são extremamente raros, porque esta faculdade, elevada ao seu mais alto grau, requer um conjunto de qualidades morais que raramente se encontra sobre a Terra; somente eles podem obter, pela imposição das mãos, essas curas instantâneas que nos parecem prodigiosas; muito poucas pessoas podem pretender este favor. O orgulho e o egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso resulta que aqueles que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte enaltecendo as curas maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que procuram a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores condições para obtê-la, porque esta faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus dizia àqueles que tinha curado: “Ide dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.”

 A mediunidade curadora pura sendo, pois, uma exceção neste mundo, disso resulta quehá quase sempre ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano; quer dizer, queos médiuns curadores são todos mais ou menos magnetizadores, é por isso que agem segundo os procedimentos magnéticos; a diferença está na predominância de um ou de outro fluido, e na maior ou na menor rapidez da cura. Todo magnetizador pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos bons Espíritos; neste caso os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.

 Os Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles se rendem à prece, se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium curador de desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém, e não pela sua pretensão de sê-lo.

 A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade, inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de sua vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e sobretudo, pela prática do bem e da caridade.

Fonte: Revista Espírita – Allan Kardec
 Ano 8 – Setembro de 1865 – Nº. 9

O PERISPÍRITO

ASPECTOS GERAIS

“Para ser mais exato, é preciso dizer que é o próprio Espírito que modela o seu envoltório e o apropria às suas novas necessidades; aperfeiçoa-o e lhe desenvolve e completa o organismo, à medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades; numa palavra, talha-o de acordo com a sua inteligência. Deus lhe fornece os materiais; cabe-lhe a ele empregá-los. “

A Gênese – Allan Kardec (Cap. XI – item 11)

O perispírito não foi descoberto por Allan Kardec em suas exaustivas pesquisas nas paisagens do além túmulo. O brilhante pesquisador, apenas deu-lhe novo nome, e omitiu maiores detalhes sobre sua anatomia e fisiologia, limitando-se a defini-lo como corpo constituído de substância vaporosa, retirado do fluido universal, capaz de resistir aos rigores da morte física.

Era necessário que o Espiritismo evitasse maiores polêmicas; que não tivesse o fogo cerrado dos materialistas e céticos centralizado em algum ponto de fértil controvérsia, desviando assim as discussões gerais para ângulos laterais, importantes sem dúvidas, mas inoportunos para a época.

Houvesse Kardec descrito o perispírito como portador de células, órgãos, sistemas, à semelhança do corpo físico, capaz de sofrer a ação do petardo suicida ou dos maus pensamentos gerando resíduos em suas fibras, o Espiritismo teria tido maiores adversários.

Os biólogos, fisiologistas e anatomistas, trariam mil hipóteses e versões sobre a impossibilidade da tese de um organismo imponderável, aliado ao corpo denso. Os pseudos religiosos tentariam levar ao ridículo a tese espiritista dizendo ser o pesquisador um possesso ou louco manipulado pelos demônios, que estranhamente só se apoderam daqueles que não pensam como eles. Os adversários ferrenhos, os pensadores cristalizados em suas idéias e sistemas viciados, os inimigos gratuitos, os portadores da fobia ao novo, os preguiçosos mentais não dotados de fibra e coragem de reconstruir novo arcabouço filosófico, os acomodados cujos corações e consciências não aprovavam o despotismo religioso da época, mas de ouvidos e mãos subservientes, se juntariam em coro uníssono fazendo da crítica mordaz e não fundamentada, poderosa arma contra a doutrina nascente.

Difícil seria assumir posição de neutralidade. Impossível ao aprendiz espírita argumentar contra o academicismo materialista reinante, ou ao religioso fanatizado. Seria alvo de zombaria. Os cadáveres seriam triturados na busca dessa cópia do físico por algum louco que perguntaria: aonde o outro corpo? Ave Kardec! Tua sabedoria não foi somente a das palavras; mas a do silêncio. Louve-se portanto, a atitude desse mestre, ao citar o perispírito de maneira generalizante e sintética, abafando a metralha, ou desviando-a para pontos onde os fortes escudos da razão e da lógica ofereciam suficiente resistência para tais projéteis. A verdade deveria surgir em doses, na proporção que o organismo pudesse absorvê-la.

Elaborado desde milhões de anos, nos laboratórios da natureza, o perispírito herdou o automatismo permanente que o mantém atuante, transmitindo ao Espírito as impressões dos sentidos e comunicando ao corpo as vontades deste. Graças a este automatismo perispiritual, o homem não precisa programar-se ou pensar para respirar, dormir, promover os fenômenos digestivos, excretar, fazer circular o sangue e os hormônios e um sem número de funções que lhe passam despercebidas.

O corpo perispiritual é portador de todas as matrizes dos órgãos carnais, bem como parcipante nas funções que o corpo físico elabora. Estudar o corpo humano é estudar o perispírito e vice-versa, lógico que não desvinculando tal estudo da atuação mental, como fator de harmonização ou desagregação molecular dos mesmos.

O corpo físico obedece ao automatismo perispirítico até mesmo quando o perispírito se afasta. Aquele, formado célula a célula em invasão perispiritual, entranha-se neste, unindo-se molécula a molécula, resultando de tal intimidade completo intercâmbio, adaptação e aprendizagem perfeita, tal como se o físico recebesse como herança perispirítica os automatismos que lhes são peculiares.

Por isso, nos desdobramentos, onde o complexo Espírito-perispírito se afasta do corpo ficando a ele ligado por um laço fluídico, suas funções permanecem, sem prejuízo da economia celular. O mesmo ocorre no coma, onde às vezes, por milhares de dias, Espírito e perispírito podem estar distantes, mas não desligados completamente com o físico animado à espera da volta de ambos.

O perispírito é também indicador do estágio evolutivo do Espírito. Tanto pela sua observação direta fora do corpo, luminosa ou opaca, quanto pelas formas harmoniosas ou grotescas que imprime ao corpo físico. Sem o perispírito seria impossível manter os traços fisionômicos por ocasião da renovação celular, ou mesmo a forma humana, que é delimitada por parâmetros peculiares à espécie.

Afirmamos ainda, que neste corpo se encontra a gênese patológica das mais variadas enfermidades, que são drenadas para o físico, graças ao favorecimento de uma sintonia com os microorganismos patogênicos, gerada por seu adensamento. Alimentado pelo fluido vital o corpo permanece com suas funções celulares, mesmo com a saída do Espírito, qual motor que fica ligado sem o operador estar presente. O combustível faz a máquina movimentar-se. Uma locomotiva em movimento não pára bruscamente. Às vezes, mesmo sem a presença do Espírito, já liberto de suas amarras carnais, o corpo ainda apresenta sinais de vida, fruto do seu automatismo e de sobras fluídicas, mas a morte já cumpriu sua missão.

Quando o perispírito é submetido a uma ação mental evoluída, alimenta-se de refinado magnetismo, o que não ocorre quando a ação mental que o orienta, é deseducada. Nesse caso, ele passa a canalizar para si, energias de baixo teor vibratório, tornando o seu magnetismo adensado, aumentando-lhe o peso específico. Quando isso ocorre, ele torna-se mais “grosseiro”, à semelhança do corpo somático, sendo atraído para as regiões compatíveis ao seu estado, passando estas a lhe servirem de moradia.

Quanto à alimentação, apesar de o perispírito ser portador do sistema digestivo completo, bem como do sangue que corre em suas veias e artérias, impulsionado pelo coração distribuindo substâncias vitais, ela não se faz de maneira análoga para todos os Espíritos.

Os recém-desencarnados que possuem o hábito da alimentação pesada, tais como vísceras, caldos gordurosos, pastosos e derivados, sofrem intensa necessidade de tais alimentos, e os recebem; só que fluídicos, satisfazendo assim seus apetites, aliviando o sofrimento imposto pela fome, que não se vê saciada com alimentação mais sutil. Apesar de não mais existir o corpo físico que exige o alimento igualmente físico, portando proteínas, glicídios e sais minerais, cuja função é fornecer as calorias necessárias à massa do corpo suprindo suas exigências plásticas e energéticas, essa dieta alimentar impõe-se por uma necessidade psicológica relacionada ao volume, peso e sabor, correspondente ao regime outrora praticado.

Um outro tipo de alimentação mais refinada, usada por aqueles que procuram libertar-se dos hábitos terrenos, é formada por sucos etéricos de frutas, caldo de essências reconfortantes e água misturada a elementos magnéticos. Esses alimentos são utilizados nos postos de socorro e servem aos Espíritos que descem aos charcos de dor em missões de resgate, devido às condições do meio não possibilitar a inalação de princípios vitais da atmosfera através da respiração. No entanto, o tipo de alimentação do perispírito que conseguiu adaptar-se ao meio astral é o da osmose magnética; esse método consiste na absorção e eliminação do magnetismo ambiental. Pelos poros, utilizando produtos da natureza, o perispírito se abastece, podendo excretar os resíduos formados, pela exsudação epidérmica ou pelas vias excretoras normais, sem o excesso de sólidos e líquidos dos excrementos comuns aos encarnados. Substituindo a quantidade pela qualidade, e sendo os elementos absorvidos altamente imponderáveis, estes são assimilados quase que integralmente, deixando escassos resíduos a serem eliminados.

Veja o Livro O Perispírito e suas Modelações (Luiz Gonzaga Pinheiro) – Completo para baixar